Na primeira vez em que estivemos em Teresina, para iniciar a minha pesquisa partindo da obra e dos ideais do poeta piauiense Torquato de Araújo Neto, tivemos a oportunidade de conhecer uma figura que me lembrou muito uma especie de Dom Quixote De La Mancha do ser(tão) piauiense, que atendia carinhosamente por Dr Heli, ou Tio Heli. Conheci esta figura ao lado de Juliana e do seu fiel motorista escudeiro num fim de tarde quente num casarão antigo de propriedade de Dona Genú, personalidade de boa conversa, e muito conhecida no meio social da região. Após alguns minutos de conversa onde nós apresentamos as razões pelas quais estavamos em Teresina e o motivo do meu desejo em conhece-lo, Juliana pediu permisão para ligar a camera e o gravador. Após algumas horas descobri naquele homem uma sensibilidade e inteligencia muito particular. Tio Heli era uma daqueles homens que aglomerava o que estava a sua volta, e que de sorriso leve e compreensão pertubadora, impresionava os seus pares por sua humildade e sabedoria. Para um segundo encontro foi um pulo. Numa manhã de sol quente, eu ia saindo do elevador, indo em direção ao hall do hotel no qual estavamos hospedados, e me surpreendo com a presensa do tio Heli, que acompanhado do seu fiel motorista escudeiro, pedia a recepcionista o numero do nosso apartamento, bem como uma garrafa de vinho branco para brindar aquela manhã. Ao me ver, ele perguntou onde estava Juliana e nos convidou para almoçar. Hesitei, pois tinha uma entrevista já marcada com um rapaz da região. Mas não demorou muito para eu decidir que aquele segundo encontro valeria ainda mais a pena. Saimos para conhecer Teresina. Almoçamos numa embarcação flutuante em pleno rio Paranaiba, conhecemos um centro de artesanato bem próximo dali, onde ele presenteou com dois anjos de barro, a minha mulher e parceira, Juliana. A partir dali, foi alegria. Aqueles anjos iluminaram ainda mais o nosso encontro e no dia seguinte estávamos novamente juntos numa churrascaria, onde desta vez, eu e Juliana havíamos o convidado para almoçar. Ao fim do almoço, após a sobremesa, me antecipei á vinda do garçom até a mesa, e fui pagar a conta direto no balcão. Ao voltar e sentar na mesa, olhei para tio Heli ao lado do seu fiel motorista escudeiro, e para Juliana, e pressenti que eu tinha armado uma confusão. O garçom chegou até a mesa e tio Heli mal foi pedindo a conta, eu já fui o atropelando com um "já tá pago". O garçom acenou com um gesto positivo com a cabeça, e tio Heli retrucou: "o quê cabra, você fez o quê?", olhando para mim. Ele voltou os olhos para o garçom e disse: "se você aceitou, eu não volto mais aqui". Apesar dos sorrisos leves que flagravam a situação da mesa, vi que a coisa estava ficando séria. Tio Heli falou: "eu não aceito uma coisa dessa não". Eu disse:"tio Heli, deixe eu fazer uma gentileza". Ele retrucou:"o quê cabra, assim eu vou ficar aperreado". O garçom logo deu a solução dizendo "pronto, pronto, vou extornar o cartão do rapaz". Tio Heli disse:"Faça isso, vamos logo, faça isso". E eu não dei mais nenhuma palavra. Tio Heli era assim, presença forte, acolhedora, capaz de amar as crianças que ele ajudava numa fundação que ele mesmo criou. Eu já não era mais nenhuma criança, mas diante tamanha presença, me recolhi á obediência. Hoje, tio Heli continuar á iluminar o caminho deste projeto, sob a guarda dos anjos que ele deu á minha mulher, Juliana. Planejamos juntos, que ele veria o resultado de todo este trabalho. E quem é capaz de dizer que ele, agora também mais forte do que nunca, e para sempre, não está vendo? Acredito que ninguém. E assim Torquato ainda se faz mais presente como ponto de partida, dando segurança no meu olhar adiante, e me fazendo redescobrir onde chegar. Foi fácil descobri por tio Heli que a vida é uma beleza que foi feita para acabar. E assim nos encantamos cada vez mais pelos ideias propostos neste projeto.
Lucas Valadares
Lucas Valadares
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