Neste tempo, precisamente nesses últimos três meses, os artistas orientadores do projeto estiveram imersos nas conclusões de suas vivências, formalizando as suas experiências durante esta etapa de residência artística, para envio de relatórios para FUNARTE. Mergulhados nesta etapa de mensuração dos resultados obtidos, os artistas tiveram gratas surpresas, superando as suas expectativas quando avaliaram o material resultado da pesquisa entre eles e o público participante. Um momento muito rico em Teresina! Prá frente, que o trem continua a sua viagem, levando os vagalumes para a cidade grande, para São Paulo, uma nova estação, a próxima parada de pesquisa e realização do projeto, e para isto, também os artistas tiveram que formalizar as suas idéias para adequá-las à editas de cultura que pudessem dar mais sustentação à pesquisa neste novo momento. E agora, depois deste tempo de produção e avaliação, estamos na expectativa quanto aos resultados. Esperamos pescar algum peixe, quer dizer, soltar os vagalumes nesta nova parada, iluminando a estação, lhe dando luz, e revitalizando, oxigenando ainda mais os sonhos para realização desta etapa da pesquisa. Já, já, teremos novas, muitas novas!!
sexta-feira, 10 de junho de 2011
quinta-feira, 3 de março de 2011
quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011
CARNE-SECA
Fotos: Julina Grave
Segundo dia da oficina Carne-Seca.
Começamos o nosso dia diferente do primeiro. Após a investigação vocal, ouvimos um poema de uma das participantes. No escuro, todos deitados no chão, fundo musical rolando baixinho.
Começamos o nosso despertar corporal.
Depois de uma partitura corporal criada por uma das participantes ao meu pedido, começamos a dividir com os outros os movimentos. Investigamos o nosso corpo transformando uma simples partitura em ações físicas.
O segundo momento do nosso encontro, verticalizamos um pouco mais a nossa investigação corporal depois da nossa dança pessoal, a música pessoal. O Corpo que canta e a voz que emana.
Encontramos muitas possibilidades.
Finalizamos com a nossa música.
Circulo de conversa.
Juliana Grave
quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011
Abertura dos Trabalhos
É com alegria, que nós, artistas representantes e idealizadores do Projeto “Ainda Há Vaga-lumes Lá Fora”, contemplado pelo Prêmio Interações Estéticas em Pontos de Cultura 2010, da Funarte, recebemos todos vocês, participantes, e não menos do que nós, também sonhadores e realizadores deste projeto, para um convívio de quase duas semanas mergulhados na construção de um diálogo que contribua para compreensão de algumas questões voltadas aos nossos desejos artísticos, sempre partindo da vida e da obra do escritor e poeta piauiense, Torquato de Araújo Neto, mais conhecido como Torquato Neto. O mais importante neste momento aqui, não é buscar respostas e afirmações, mas sim nos deixar se perder, e nos encantar pelo o que se desconhece, pela misteriosa força presente em cada um de nós. E vocês estão aqui por terem nos rendido através desta força sedutora e capaz de mobilizar um canto, ou até mesmo um mundo. Mas um canto, um cantinho só, já está de bom tamanho, pois é a partir dele que abraçamos a força invisível que nos conecta. Sejam muito bem vindos!! E não se esqueçam que isto aqui é uma troca, uma etapa de construção para o que ainda não sabemos, e como é bom aprendermos juntos... Cheguem, podem chegar! Merda e Axé!!!
domingo, 13 de fevereiro de 2011
Apoio legal!
Fotos Juliana Grave
A ABD-PI/ANTARES, Associação Brasileira de Documentaristas do Piauí, está apoiando o nosso projeto de Residência Artística em Teresina, "Ainda Há Vagalumes Lá Fora", disponibilizando o seu espaço para a realização do Núcleo de Pesquisa Geléia Visual (oficina de cimena), á ser ministrada pelo cineasta baiano Edgard Navarro. Queremos agradecer aqui esta mais nova e importante parceria para a realização da nossa pesquisa, pois a ABD-PI tem toda uma infra-estrutura técnica e funcional capaz de abrigar o nosso sonho. Obrigado a Kleyton e Leide, que nos receberam com todo o carinho e eapoio para o início de nossa pesquisa com os colaboradores e participantes interessados em fazer parte na construção e idealização deste projeto que parte da vida e da obra do poeta piauiense Torquato Neto.
Esta oficna acontecerá do dia 28/02 á 04/03/11, sempre das 09h ás 14h, com uma mostra final no dia 05/03/11 ás 09h no Ponto de Cultura "Nos Trilhos do Teatro". Outras atividades serão desenvolvidas por este núcleo, mas que serão divulgadas oportunamente.
segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011
Olhar
Um azul profundo do céu amansa a paz das coisas. Apazigua ainda mais o silêncio terno que as une.
E no pontop pelo qual me encontro, observo esta cor, a coisa dentro e fora de mim, e eu, este silêncio que se reverbera ao escrever, que se detona ao expor-se como uma ponte baixada ao céu, ao mundo.
E num ato de deformação, o meu olhar cristaliza-se em intervalo para dar tempo para que eu compreenda a coisa.
Mas quando menos espero, o tempo já passou, e tudo volta a misturar-se,
Eu, o azul profundo do céu, e acoisa em mim.
Lucas Valadares - 07/02/11
quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011
Nossa amiga e parceira!
Algumas fotos de trabalho com a nossa produtora local, Josy Brito, que desde o início se interessou pelo projeto e nos ajudou a abrir caminhos. Em uma das fotos, estou com ela e Arnaldo. E em outra com ela, Juliana e a repórter que nos entrevistou no estúdio.
Fotos: Juliana Grave
sábado, 29 de janeiro de 2011
Incursões, Inserções, Inspirações
Fotos: Juliana Grave
Chegamos as 08:03h, com garrafas de água e frutas nas mãos, num calor escaldante, no espaço para a seleção. A nossa primeira interessada, e de olhar doce e ingênuo, mas com fé no semblante e jovialidade firme, louca para fermentar, no primeiro instante disse, "é que eu quero ser atriz, sempre sonhei com isso". Era 08:10 e suspiramos aliviados, pois se chegássemos sete minutos depois, não seria a mesma cena que vimos quando ela veio se aproximando e sentando na cadeira, um pouco nervosa, mas natural, simples e natural. E foi isso que permeou as nossas seis horas de trabalho, muita gente interessada, e acima de tudo, especial. Foram quase 40 interessados que ali se inscreveram e conversaram conosco pessoalmente, e além de tudo, realizaram alguns exercícios que propomos, como improvisações em cima de uma letra de música e de um poema de Torquato Neto. Tivemos também algumas visitas inesperadas, de amigos de Torquato, que conviveram com ele na época, como Arnaldo Albuquerque e o já parceiro, Durvalino. Neste instante havia um número grande de pessoas que já haviam se inscrito, e como mais nenhuma pessoa chegava, Juliana Grave, atriz, produtora e também idealizadora deste vagalume que ilumina o seu próprio caminho em busca de mais luz, resolveu realizar um exercício coletivo de corpo e voz com todos, o que nos encantou. Algo breve, mas profundamente especial. O "start" já tinha então sido dado. E dividido entre dar atenção aos ilustres visitantes, e registrar aquele momento com alguma câmera, dei atenção á todos, vendo á tudo, num contato pessoal, sem pontes, de olhos desnudos, como espectador em uma arena. As 14:00h fomos para o Hotel almoçar e seguir viagem, teríamos três horas de vôo entre Teresina e São Paulo, o que seria pouco tempo para comemorarmos voando. Aterrisamos, e cá estamos, loucos para fermentar, como a doce ingenuidade daquela primeira menina que nos viu na sala, e com os seus olhos falou " a gente tem sempre que correr atrás dos sonhos da gente, né?!". Pois é, tem sim, e estamos correndo atrás dos nossos, que são os deles também! O nosso vagalume está mais forte, e segue, segue, segue...
quinta-feira, 27 de janeiro de 2011
No Caminho.
Foto: Juliana Grave
Artista orientadora: Juliana Grave.
Amanhã dia 28/01/2011 as 8h, acontecerá no Ponto de Cultura nos Trilhos do Teatro, em Teresina a seleção para as oficinas do projeto Interações Estéticas - Residência Artísticas em Pontos de Cultura 2010 "Ainda Há Vagalumes Lá fora"
Releases oficinas
Navilouca – Núcleo de pesquisa que investigará a arquitetura da palavra em sua semântica, na relação com o tempo/corpo/espaço, bem como na sua resignificação poética dentro de um contexto sócio-cultural. Serão conduzidos os seguintes procedimentos: leitura de textos; participações e depoimentos com estudiosos sobre a obra de Torquato Neto; e a construção da imagem e musicalidade da palavra na poética do corpo.
Artista Orientador: Lucas Valadares
Carne Seca – Núcleo de pesquisa que investigará a relação entre corpo e voz na construção de um corpo cênico, ampliando as potencialidades expressivas de cada indivíduo. A partir de um trabalho psicofísico que encontra na sua relação com o espaço interno x espaço externo, propor procedimentos criativos, tais como: jogos teatrais, noções de espaço e foco, expansão e recolhimento, equilíbrio precário, o corpo enquanto instrumento de composição, e estudo do movimento.
Artista orientadora: Juliana Grave.
Geléia Visual – Núcleo de pesquisa que investigará através de aulas expositivas para traçar brevemente um painel abrangente dos tópicos concernentes à atividade sobre cinema, concentrando-se nos temas: pequena história do cinema, panorama do cinema atual, cinema brasileiro, problemas nordestinos, verbas oficiais, editais, elaboração de projeto: orçamento, análise técnica, o roteiro cinematográfico. Preparação das filmagens: definição da equipe, seleção do elenco, pesquisa de locações, reuniões de pré-produção, direção de arte, figurino, objetos de cena. Filmagens: cronograma, preparação de atores, deslocamentos, equipamentos, problemas mais frequentes de produção. Seleção musical, direitos autorais, composição de trilha original.
Exibição de trechos de filmes para ilustrar as expositivas, filmes do próprio Torquato: TERROR DA VERMELHA e NOSFERATU, de Ivan Cardoso, filmes do Edgard Navarro: o rei do cagaço, exposed, superoutro, eu me lembro, filmes de outros: Pasolini, Buñuel, Kurosawa
Objetivo final: Proposta de realização por equipe formada no grupo de participantes da oficina de um clipe com música de Torquato Neto – MAMÃE CORAGEM.
Artista orientador: Edgard Navarro
quarta-feira, 26 de janeiro de 2011
Num vôo cor de luz
Foto: Juliana Grave
Acredito que ainda haja vagalumes lá fora, aqueles que realmente piscam e voam. E quando escrevo "ainda", não é com a intenção de revelar nenhuma espécie de pessimismo quanto á força na qual acredito que haja na humanidade em poder se transformar a partir e através do outro. Escrevo "ainda" por uma percepção muito particular do universo, por uma espécie de reflexão inconsciente como cidadão e artista, o que vem me transformando como ser humano. Começo a perceber aqui esses vagalumes que sempre existiram, mas em que determinado período eu os percebia sem os notar, até mesmo como uma espécie de defesa para vivenciar este meu momento de reclusão, de escuridão necessária, para que esses vagalumes incendiassem de alguma maneira a minha expectativa de futuro. Ainda há vagalumes lá fora vem cobrar a minha participação ativa em alguns princípios que poderão vir a compor na formação de um pensamento artístico que se renove na sua relação com esta região, sua comunidade, através da sua matriz poética. As implicações resultantes desta trajetória serão as sementes para a feitura de um primeiro tratamento na composição de uma dramaturgia para o espetáculo solo aqui proposto. Respirar fundo o oxigênio, e partir para abraçar á todos que voam também!
quarta-feira, 19 de janeiro de 2011
Um pouco do Projeto “Ainda Há Vagalumes Lá Fora”
Através de uma prática artístico-pedagógica que tem como pressuposto o desencadeamento de procedimentos poéticos no intuito de promover a construção de um pensamento crítico e autônomo quanto aos modos de produção artísticos, “Ainda Há Vagalumes Lá Fora” busca jogar luz sobre ferramentas e elementos que fortaleçam a relação do ponto de cultura “Nos Trilhos do Teatro” com seu entorno, promovendo um entendimento de uma práxis artística que visa contribuir com a formação de atores-artistas enquanto agentes sócio-culturais.
O objetivo geral do projeto é o de estabelecer um espaço de discussão e criação através das seguintes frentes de trabalho/oficinas: Navilouca (mote: literatura e poesia), Carne seca (mote: Corpo e Voz), e Geléia Visual (mote: dramaturgia e áudio-visual), para jovens da comunidade em que se encontra neste ponto de cultura. As seguintes frentes de trabalho terão como base a obra literária do poeta piauiense Torquato Neto. Nesse sentido, essa interação funciona como uma forma de atritar-se esteticamente com a história, memória e geografia da matriz humana e poética desta pesquisa.
Portanto, esta é uma etapa de construção de uma obra teatral pautada na dramaturgia pessoal do ator como eixo de sustentação ideológica e metodológica no artesanato com a poesia de Torquato, a sua terra e os confins da poesia do próprio projeto. Assim sendo, criar essas frentes de trabalho para esta residência artística em Teresina neste ponto de cultura é um etapa importante para a pesquisa da criação de uma primeira dramaturgia para o espetáculo sobre Torquato Neto.
“Esta atividade integra o Prêmio Interações Estéticas – Residências Artísticas em Pontos de Cultura 2010” FUNARTE
segunda-feira, 17 de janeiro de 2011
Uma luz no meu caminho
Na primeira vez em que estivemos em Teresina, para iniciar a minha pesquisa partindo da obra e dos ideais do poeta piauiense Torquato de Araújo Neto, tivemos a oportunidade de conhecer uma figura que me lembrou muito uma especie de Dom Quixote De La Mancha do ser(tão) piauiense, que atendia carinhosamente por Dr Heli, ou Tio Heli. Conheci esta figura ao lado de Juliana e do seu fiel motorista escudeiro num fim de tarde quente num casarão antigo de propriedade de Dona Genú, personalidade de boa conversa, e muito conhecida no meio social da região. Após alguns minutos de conversa onde nós apresentamos as razões pelas quais estavamos em Teresina e o motivo do meu desejo em conhece-lo, Juliana pediu permisão para ligar a camera e o gravador. Após algumas horas descobri naquele homem uma sensibilidade e inteligencia muito particular. Tio Heli era uma daqueles homens que aglomerava o que estava a sua volta, e que de sorriso leve e compreensão pertubadora, impresionava os seus pares por sua humildade e sabedoria. Para um segundo encontro foi um pulo. Numa manhã de sol quente, eu ia saindo do elevador, indo em direção ao hall do hotel no qual estavamos hospedados, e me surpreendo com a presensa do tio Heli, que acompanhado do seu fiel motorista escudeiro, pedia a recepcionista o numero do nosso apartamento, bem como uma garrafa de vinho branco para brindar aquela manhã. Ao me ver, ele perguntou onde estava Juliana e nos convidou para almoçar. Hesitei, pois tinha uma entrevista já marcada com um rapaz da região. Mas não demorou muito para eu decidir que aquele segundo encontro valeria ainda mais a pena. Saimos para conhecer Teresina. Almoçamos numa embarcação flutuante em pleno rio Paranaiba, conhecemos um centro de artesanato bem próximo dali, onde ele presenteou com dois anjos de barro, a minha mulher e parceira, Juliana. A partir dali, foi alegria. Aqueles anjos iluminaram ainda mais o nosso encontro e no dia seguinte estávamos novamente juntos numa churrascaria, onde desta vez, eu e Juliana havíamos o convidado para almoçar. Ao fim do almoço, após a sobremesa, me antecipei á vinda do garçom até a mesa, e fui pagar a conta direto no balcão. Ao voltar e sentar na mesa, olhei para tio Heli ao lado do seu fiel motorista escudeiro, e para Juliana, e pressenti que eu tinha armado uma confusão. O garçom chegou até a mesa e tio Heli mal foi pedindo a conta, eu já fui o atropelando com um "já tá pago". O garçom acenou com um gesto positivo com a cabeça, e tio Heli retrucou: "o quê cabra, você fez o quê?", olhando para mim. Ele voltou os olhos para o garçom e disse: "se você aceitou, eu não volto mais aqui". Apesar dos sorrisos leves que flagravam a situação da mesa, vi que a coisa estava ficando séria. Tio Heli falou: "eu não aceito uma coisa dessa não". Eu disse:"tio Heli, deixe eu fazer uma gentileza". Ele retrucou:"o quê cabra, assim eu vou ficar aperreado". O garçom logo deu a solução dizendo "pronto, pronto, vou extornar o cartão do rapaz". Tio Heli disse:"Faça isso, vamos logo, faça isso". E eu não dei mais nenhuma palavra. Tio Heli era assim, presença forte, acolhedora, capaz de amar as crianças que ele ajudava numa fundação que ele mesmo criou. Eu já não era mais nenhuma criança, mas diante tamanha presença, me recolhi á obediência. Hoje, tio Heli continuar á iluminar o caminho deste projeto, sob a guarda dos anjos que ele deu á minha mulher, Juliana. Planejamos juntos, que ele veria o resultado de todo este trabalho. E quem é capaz de dizer que ele, agora também mais forte do que nunca, e para sempre, não está vendo? Acredito que ninguém. E assim Torquato ainda se faz mais presente como ponto de partida, dando segurança no meu olhar adiante, e me fazendo redescobrir onde chegar. Foi fácil descobri por tio Heli que a vida é uma beleza que foi feita para acabar. E assim nos encantamos cada vez mais pelos ideias propostos neste projeto.
Lucas Valadares
Lucas Valadares
Lucas Valadares
Seguindo o Mergulho
Mamãe, Coragem
Torquato Neto
Composição: Caetano Veloso e Torquato Neto
Mamãe, mamãe não chore
A vida é assim mesmo eu fui embora
Mamãe, mamãe não chore
Eu nunca mais vou voltar por aí
Mamãe, mamãe não chore
A vida é assim mesmo eu quero mesmo é isto aqui
Mamãe, mamãe não chore
Pegue uns panos pra lavar, leia um romance
Veja as contas do mercado, pague as prestações
Ser mãe é desdobrar fibra por fibra os corações dos filhos
Seja feliz, seja feliz
Mamãe, mamãe não chore
Eu quero, eu posso, eu quis, eu fiz, Mamãe, seja feliz
Mamãe, mamãe não chore
Não chore nunca mais, não adianta eu tenho um beijo preso na garganta
Eu tenho um jeito de quem não se espanta (Braço de ouro vale 10 milhões)
Eu tenho corações fora peito
Mamãe, não chore, não tem jeito
Pegue uns panos pra lavar leia um romance
Leia "Elzira, a morta virgem", "O Grande Industrial"
Eu por aqui vou indo muito bem , de vez em quando brinco Carnaval
E vou vivendo assim: felicidade na cidade que eu plantei pra mim
E que não tem mais fim, não tem mais fim, não tem mais fim.
Torquato Neto
Composição: Caetano Veloso e Torquato Neto
Mamãe, mamãe não chore
A vida é assim mesmo eu fui embora
Mamãe, mamãe não chore
Eu nunca mais vou voltar por aí
Mamãe, mamãe não chore
A vida é assim mesmo eu quero mesmo é isto aqui
Mamãe, mamãe não chore
Pegue uns panos pra lavar, leia um romance
Veja as contas do mercado, pague as prestações
Ser mãe é desdobrar fibra por fibra os corações dos filhos
Seja feliz, seja feliz
Mamãe, mamãe não chore
Eu quero, eu posso, eu quis, eu fiz, Mamãe, seja feliz
Mamãe, mamãe não chore
Não chore nunca mais, não adianta eu tenho um beijo preso na garganta
Eu tenho um jeito de quem não se espanta (Braço de ouro vale 10 milhões)
Eu tenho corações fora peito
Mamãe, não chore, não tem jeito
Pegue uns panos pra lavar leia um romance
Leia "Elzira, a morta virgem", "O Grande Industrial"
Eu por aqui vou indo muito bem , de vez em quando brinco Carnaval
E vou vivendo assim: felicidade na cidade que eu plantei pra mim
E que não tem mais fim, não tem mais fim, não tem mais fim.
Mais um Capitão.
SEI QUE VOU SOZINHO
Pouco tempo antes de Torquato acabar com sua agonia, em agosto de 1972, eu estive internado num hospital pra fazer um exame que requeria anestesia geral. Tudo porque cismei que estava com uma lesão no cérebro, estava obstinado em encontrar uma razão pra a agonia que me ia na alma. Pensava em suicídio com frequência patológica e tomava doses cavalares de tranquilizantes, remédios contra a depressão. Não achava que poderia continuar a viver e pedi a minha namorada, deixando por escrito, uma declaração em tom ridiculamente solene, em que pedia que se descobrissem algo incurável, um câncer, talvez, pedia encarecidamente que não me deixassem voltar da anestesia. Eu queria muito naquele instante me livrar daquela dor avassaladora – dor de simplesmente viver.
Isso me liga a Torquato – compreender em toda a extensão a dor que leva uma pessoa a dar cabo da própria vida. Esse é meu link com Torquato.
Mórbido, sim; mas extremamente verdadeiro, e urgente. E tão forte, em mim, que 30 anos depois ao realizar um filme de memórias, incluí aquela cena primordial pra a compreensão do drama de uma alma torturada. Quero render tributo ao poeta torquaturado através dessa geléia visual que ora se apresenta, dentro do projeto de Lucas Valadares, em Teresina. Lucas foi o ator que esteve na cama do hospital e descobriu o segredo da figueira seca. Será que isso basta?
Se não, digo que comecei a fazer filmes através do superoito, como aquele doce vampiro, e meus filmes terminaram me salvando de mim mesmo, com metáforas candentes sobre aquela dor desumana, sobre a merda, a porra, escatologia, irreverência, humor cáustico, desespero, Pasolini Teorema. E digo que há outras afinidades entre mim e o poeta, eu queria realizar o eu nunca mais vou voltar por aqui... outras... e viver tranquilamente todas as horas do fim, que já se estende demasiado. Continuo desafinando, sempre foi assim – o escândalo, a loucura santa, o deboche, sempre me atraíram. Mas acho que os filmes que andei fazendo durante esses quase 40 anos operaram em mim uma espécie de redenção pelo sacrifício, estou me curando de mim mesmo, aprendendo a conviver com o fato de que a solidão não é uma tragédia, que a vida pode ser até muito divertida. Despedir-me da dor infinita e do peso enorme do tremendo fardo invisível, gritar a plenos pulmões: abaixo a gravidade! – reagir.
Acho que se ele estivesse vivo teria driblado a morte, teria feito o mesmo. “Mas não vou lamentar o que nem sequer aconteceu; agradeço, mas prefiro recomeçar pelo recomeço”. Basta.
EDGARD NAVARRO
domingo, 16 de janeiro de 2011
DIVAGAÇÃO
Num tempo em que me calo e que de mim falam, de maneira preciosa, escondo o ouro dos meus olhos para me revelar em algum instante mágico em que eu possa compensar a vida por ela ter me criado. Não posso desperdiçar os sentimentos e valores apreendidos, de forma silenciosa nesses últimos anos, em discursos vazios, em gestos ligeiramente eloquentes, em vagas expressões sem forma e essência, sem cor. Pretendo prosseguir calado no meu palco mágico de ilusões solitárias, até perceber e entender o instante mágico de compartilhar a minha experiência e vivência, um pouco dela até já esquecida por mim, mas resistente ao tempo e abrigada no meu corpo, com as pessoas, algumas conhecidas, outras nem tanto, outras poucas íntimas, muitas totalmente desconhecidas. Compartilhar o mundo com o mundo não é tarefa fácil para o artista. Nem tão pouco resguardar-se em segredos múltiplos, ouvindo de quando em vez o som da cigarra, seja fácil por não dizer nada, porque também se diz muito a si mesmo quando calado, e também se morre ainda que se não compartilhe o gozo. Dizer então que a vida em todos os seus níveis de comunicação seja difícil, é superficializar o estado presente e meditativo do pensamento. Mas afirmar que ela seja fácil é também ser injusta para com ela. Meu pensamento, portanto, fica aqui, bem no meio entre dois pontos, entre o que seja fácil e o que seja difícil. Fica num estado de depuração e devoção, fermentando o que há de invisível, ou o que há de pouco táctil. Pois o ouro dos meus olhos, assim, já não pertence mais a mim, e, então, posso dividí-lo, amamentá-lo, amá-lo em outras pessoas. E é dessa forma que eu vejo o teatro, é onde o encontro, na dilatação do que está por vir, na dedução do que por mim, seja aparentemente, o desconhecido mistério.
Segunda Expedição
Do dia 25 ao dia 28 de janeiro estaremos, eu e Juliana, em Teresina, para a realização da produção das oficinas á serem realizadas no ponto de cultura "Nos Trilhos do Teatro", de 28 de fevereiro á 05 de março. Esta é a realização de um primeiro passo, intitulado "Ainda Há Vagalumes Lá Fora", de um projeto artístico ainda maior, partindo da vida e da obra do artista piauiense, Torquato Neto. Os prazos com datas e verba para sua execução saíram agora, dia 13 de janeiro, e vamos partir para esta segunda expedição para planejamento das oficinas artísticas. Será uma experiência, com certeza, muito bonita. Quero agradecer aqui, o apoio e a confiança da Funarte pelas ideias do nosso projeto, que tem uma natureza que contempla mais do que a sua dimensão artística, mas as suas implicações na realidade social não só de Teresina, mas de um país que precisa sempre de iniciativas como esta.
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